Depois da conquista do 25º título Sul-americano Adulto Feminino e do 15º consecutivo invicto, na noite de segunda-feira (18 de agosto), a comissão técnica da Seleção Brasileira avaliou como positivo o trabalho multidisciplinar realizado pelo Departamento de Ciência e Performance da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) com a equipe nacional. A competição foi realizada na cidade de Ambato, quarta maior metrópole do Equador, que fica a 2.600 metros acima do nível do mar.

Quem desembarca numa cidade de altitude elevada costuma sentir logo o impacto do ar rarefeito no organismo. Em alguns casos, os efeitos são perigosos. A maioria das reações provocadas pela altitude no corpo é causada pelo fenômeno da hipóxia, a falta de oxigênio no organismo. O médico da equipe Jorge Luiz Fernandes Oliva Junior explicou o trabalho multidisciplinar que envolveu as áreas da nutrição, preparação física, fisioterapia e médica.

“Antes do início da preparação já vínhamos discutindo maneiras de chegar a uma conclusão para minimizarmos os efeitos da altitude. Sabíamos que seria impossível realizar uma aclimatação de 100%, mas conversarmos em torno do que poderíamos fazer para melhorar ou até minimizar os efeitos da altitude. Então nos baseamos muito na parte da alimentação, na ingestão de carboidrato, que é uma medida comprovadamente benéfica para quem vai praticar atividades físicas na altitude, na ingestão de ferro, através de uma suplementação que está ligada a parte das hemácias e hemoglobinas que carreiam o oxigênio no sangue. E na parte médica chegamos a conclusão que ter o balão de oxigênio na beira da quadra ajudaria muito na recuperação mais rápida das meninas, em substituições e intervalos”, explicou o médico.

A nutricionista da Seleção, Mirtes Stancanelli, Mestre em Biologia Funcional e Molecular, falou sobre o trabalho de nutrição funcional realizado com a equipe brasileira. “As atletas foram orientadas sobre as questões da hidratação. Deveriam a cada 15 a 20 minutos tomar água com o objetivo de não entrarem em estado de desidratação. Tivemos também a preocupação de ajustar e aumentar os conteúdos de carboidratos do dia a dia, aumentando de um a dois pratos de sobremesa de massa e carboidratos durante e após os treinos. Esta atitude melhora a resposta do organismo na altitude”, analisou a nutricionista.

Mirtes explicou também o trabalho de suplementação e a metodologia do departamento de nutrição da CBB. “Elas iniciaram uma suplementarão de ferro e vitaminas do complexo B duas semanas antes. Além de ajustarmos as quantidades calóricas da dieta buscando a manutenção e aumento na formação das células vermelhas do sangue, já que algumas atletas possuem fluxo menstrual alto. Outro aspecto muito importante é que já estamos realizando este trabalho há sete anos, nas seleções masculinas e femininas. A metodologia ensinada pelo departamento de nutrição vem sendo aplicada para que a cada ano tenhamos mais atletas conscientes sobre as questões da nutrição e performance. Assim conseguimos maior aderência para que nossos objetivos sejam alcançados”, disse Mirtes.

Já o preparador físico, Clóvis Roberto Haddad, o Vitta (foto), campeão da última edição da Liga de Basquete Feminino (LBF) com a Unimed/Americana, destacou a união interdisciplinar do Departamento de Ciência e Performance da CBB. “Fizemos uma preparação para esse Sul-americano que foi muito interessante. Sabíamos que contaríamos com as atletas chegando fora de ritmo para os treinamentos, pois não estão em período de competição no Brasil. Então desde o Canadá já vínhamos conversando com as jogadoras, dando a orientação sobre o trabalho que deveriam fazer antes da apresentação para o Sul-americano, e com os preparadores físicos dos clubes que elas jogam. Todos entenderam e ajudaram muito nessa preparação. Além disso, a comissão técnica já vinha avaliando as condições de jogo das atletas com a altitude. Todos se mobilizaram e discutimos alternativas e recursos que poderíamos utilizar durante a fase de treinamentos. Foi um trabalho extremamente interessante, pois estamos vendo os resultados de colocar a equipe em condição competitiva”, avaliou Vitta.

O preparador físico explicou ainda através do trabalho fisiológico, que quando alguém não está devidamente acostumado a realizar qualquer prática esportiva nessas condições, é normal que se sinta bem mais cansado e que o rendimento diminua. O trabalho do departamento foi exatamente para que não acontecesse essa diminuição do rendimento.

“Com a fisiologia conversamos sobre os tipos de treinamentos que deveriam ser feitos para que aguentassem as condições de altitude. Como seriam feitos e em que momento encaixaríamos os treinos adicionais. Tivemos uma semana de preparação bastante intensa e com volume de treinamento bastante grande. Além do entendimento dos técnicos sobre esse trabalho. A equipe toda esteve com a engrenagem muito bem ajustada. E com isso conseguimos esse resultado que vimos na quadra. As meninas conseguindo suportar todas as cargas mesmo com altitude”, completou Vitta.

A fisioterapia com as profissionais Milena Perroni e Paula Hensel realizou um programa específico de prevenção de lesões. Por meio de testes, intervenções e avaliações integradas com técnicos, médicos e preparadores físicos, as fisioterapeutas realizaram a importante tarefa de cuidar dos músculos, da postura e das articulações das atletas.

“Seguimos com o trabalho de prevenção que vem sido realizado há alguns anos com a equipe. Todas as atletas avaliadas iniciaram um trabalho preventivo que envolve os músculos específicos no controle do tronco, pelve e membros inferiores. O objetivo inicial é segmentado restaurando o controle pélvico com movimentos específicos para glúteo, rotação lateral de quadril e abdutores. Nossa intenção é o intercâmbio de informações entre técnicos e preparadores físicos para maior aproveitamento dos exercícios e que pudessem suportar essas cargas a mais que receberiam para suportar a altitude. Para essa preparação como precisam trabalhar em picos maiores, por exemplo, nos treinos de resistência intervimos com as medidas de recuperação como a Crioterapia, que é imersão no gelo, com o objetivo que conseguissem se adequar ao que estava sendo pedido”, analisou Milena.

As fisioterapeutas Milena e Paula também falaram sobre o trabalho respiratório através de exercícios terapêuticos realizados com as jogadoras já no Equador. “Sobre a parte terapêutica, quando elas começaram a apresentar algum tipo de alteração na adaptação, mesmo com toda a orientação, o que tentamos preconizar com elas foi que entendessem como respirar antes mesmo da intervenção do oxigênio. Elas deveriam aumentar a condição respiratória em um padrão mais lento e soltar o ar também de forma mais lenta, para que a respiração delas entrasse em um padrão de adaptação para resistir a essa altitude. Então demos algumas orientações sobre exercícios terapêuticos como tempos de respirações maiores, uma inspiração em três tempos para aumentar a condição da quantidade de ar que se tem no pulmão e soltar o ar devagar”, explicou Milena.

“Tentamos mexer na qualidade da respiração delas para que junto com as outras medidas elas conseguissem retornar e recuperar o padrão ventilatório melhor. O mais legal foi o entendimento das atletas em saber que deveriam usar o que tínhamos como recurso e que isso as ajudaria na recuperação”, concluiu a fisioterapeuta.

A Seleção Brasileira embarcou, nesta terça-feira (19 de agosto), para a Europa onde irá disputar os Torneios Internacionais em Istambul, na Turquia, de 22 a 24 de agosto, e em Limoges, na França, de 26 a 30 de agosto. Os amistosos servem de preparação para a Copa do Mundo da Turquia, que acontece de 27 de setembro a 05 de outubro.

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Foto: Kiko Ross/LBF
Fonte: CBB