História

BRASIL PERDE A CAMPEÃ MUNDIAL RUTH

O Brasil perdeu hoje, 13 de abril de 2021, a pivô Ruth Roberta de Souza, campeã mundial com a seleção feminina de basquete na Austrália em 1994.

Ruth morreu aos 52 anos em sua cidade natal, Três Lagoas (MS). A pivô estava internada para o tratamento de complicações relacionadas à COVID-19.

Ruth teve contato com o basquete na escola em Três Lagoas. A pivô foi observada por uma pessoa próxima à técnica Maria Helena Cardoso, que acabou se interessando pela jovem e trouxe Ruth para Piracicaba (SP), cidade na qual comandava o time da UNIMEP.

Maria Helena tinha urgência em aumentar a média de altura da seleção que então não alcançava 1,80 m. Nessa realidade, a força física e a altura (1,86m) de Ruth chamavam a atenção.

Rapidamente a pivô chegou à seleção. Aos 17 anos Ruth fez sua estreia com a verde-e-amarela na primeira edição dos Goodwill Games em Moscou (1986).

Em 2009 tive a oportunidade de entrevistar Ruth e ela demonstrava pleno reconhecimento do papel da treinadora em sua carreira. Dizia ela:

“Maria Helena me ensinou tudo o que eu sei hoje. Me ensinou a ser o que sou. Tudo que sou hoje devo a ela, que teve muita paciência comigo.”

A maior parte da carreira a pivô defendeu os times de Maria Helena. Acompanhou a treinadora na mudança para Campinas, quando fez parte do timaço da Nossa Caixa Ponte Preta, bi-campeão mundial.

Ruth foi durante os anos 80 e início dos anos 90 ao lado de Vânia Hernandes a maior referência da pivô clássica no basquete brasileiro, com um jogo forte embaixo da cesta e apta ao contato e aos bloqueios. A outra pivô icônica, Marta Sobral, era dona de um estilo versátil extremamente moderno.

Como bem definiu um amigo, “ela deu uma encorpada em um garrafão muito frágil”.

Era a presença mais discreta e introvertida da seleção nacional, ao lado de um quarteto que convivia mais regularmente com os holofotes e o reconhecimento (Paula, Hortência, Janeth e Marta).

Ruth participou da mítica conquista da medalha de ouro nos Jogos Pan Americanos de Havana (1991), esteve na conquista da primeira vaga olímpica do basquete feminino brasileiro e disputou em seguida os Jogos Olímpicos de Barcelona (1992).

O ponto alto da carreira viria dois anos depois. Ruth foi a única peça do garrafão mantida pela nova comissão técnica da seleção brasileira. Ao lado das novatas Alessandra, Cíntia Tuiú, Dalila, Leila e Simone Pontello, Ruth entregou a solidez que o técnico Miguel Ângelo da Luz precisava e que foi fundamental para a conquista do Mundial da Austrália (1994).

Quando perguntei sobre as memórias que a pivô guardava da disputa, ela respondeu com o relato de uma inusitada reunião das pivôs.

“Uma coisa que me marcou muito no Mundial foi uma reunião que fizemos somente entre nós, as pivôs. Nos encontramos no quarto da Alessandra e da Cíntia e fizemos um pacto de jogarmos como nunca, para acabar com aquela história de que ‘no Brasil não tinha pivô’.

Acho que só quem participou dessa reunião sabe disso. Não contamos para ninguém. E deu certo, pois o resultado todo mundo conhece.”

Mesmo depois da conquista do Mundial, a pivô foi uma das mais injustiçadas com a aprovação da proposta do ranqueamento de atletas pela Federação Paulista de Basquete.

Com alto valor no ranqueamento, a pivô ficou com mercado restrito e acabou aceitando a proposta do time de Ourinhos (1995), que à época tinha ainda uma estrutura muito precária, distante do que se organizaria anos depois.

Sem clube, a pivô acabou sendo chamada por Hortência para treinar com o clube que a Rainha então dirigia (Americana) na intenção de permitir um retorno à seleção que se preparava para sua segunda experiência olímpica.

Mas a história de Ruth com a seleção já estava encerrada.

A pivô foi mais uma vez resgatada pela técnica Maria Helena, que a levou para o projeto do BCN, clube no qual a jogadora teve suas temporadas finais, mantendo um bom nível que chegou a alimentar a possibilidade de uma transferência ao basquete italiano.

Encerrada a carreira como atleta, a pivô retornou para sua cidade. Lá seguiu trabalhando como técnica na iniciação esportiva.

Vivia de forma modesta, mas sempre estava presente nas reuniões do time campeão mundial com seu doce sorriso.

O Brasil se despede hoje dessa grande mulher, “dona de um coração maior que ela” segundo me definiu a armadora Branca e que na mesma entrevista de 2009 me contava que tinha como sonho ser técnica da seleção brasileira.

As reações unânimes de tristeza e consternação na comunidade do basquete que a notícia da morte da pivô gerou dão uma dimensão do valor de Ruth e da sua trajetória.

Que Ruth siga em paz, enquanto estaremos todos aqui lamentando a sua morte e reverenciando a sua existência.

por Bert – Painel LBF

(13 de abril de 2021)







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