Opinião
E a história antiga se repetiu na final da LBF
No início de maio de 2017, o time de Americana (então com uma parceria com o Corinthians) foi campeão da LBF 7, mas logo soube que seu projeto perderia o apoio do poder municipal.
A manutenção do projeto exigiu uma complicada mudança de sede para Campinas, que tirou o time da disputa do Campeonato Paulista.
Em setembro de 2017, a ala Karla Costa, remanescente do grupo e agora assumindo funções também na gestão do projeto, pedia pelas redes sociais doações de tintas para pintar o novo ginásio. Sem nenhum glamour, Karla e outros membros da equipe pintaram a quadra e tiveram uma dificuldade enorme para conseguir o patrocinador master até a chegada do Vera Cruz.
Em um ginásio pintado com tinta branca, uma frase em preto: “O projeto é novo, mas a história é antiga.”
Pois, ontem, o time da tinta e da história antiga repetiu a façanha, e ganhou a LBF 8, o quinto título do projeto, mas o primeiro em Campinas.
Já na estreia do time na LBF, em janeiro, se percebia que a marca do favoritismo estava novamente ali. Tecnicamente o time era bem superior aos demais e mantinha parte do núcleo vencedor de outras temporadas (Karla, Gretter e Babi).
Ao longo do torneio essa superioridade se traduziu numa campanha invicta até as finais.
Nessa altura do campeonato, o esquema tático vencedor começou a ser asfixiado pelo Sampaio Basquete e tudo caminhava para uma reviravolta.
O jogo ofensivo de Campinas ficou previsível, com quatro jogadoras abertas e uma pivô não muito afeita ao jogo interno (Fabi). Com rendimento mais baixo em função da ótima defesa do Sampaio e uma dificuldade tremenda no cinco-contra-cinco, o Vera Cruz Campinas viu seu título ameaçado em uma série dura e extremamente equilibrada.
A dois minutos do fim da partida decisiva, o Sampaio vencia por um ponto.
Uma bola de três improvável de Babi (que registrava 1/8 até então), uma cesta de 2 pontos de Aline Moura (quando as pivôs campineiras haviam produzido somente outros 2 pontos durante o jogo) e uma incrível bola de três da MVP Gretter abriram na marra o caminho para a conquista.
A armadora argentina foi o grande destaque da conquista e atuou em altíssimo nível, especialmente nos dois últimos jogos.
Embora não tenha apresentado uma regularidade nos jogos finais, a cubana Ariadna ainda é uma jogadora diferenciada para o nosso atual nível.
Pressionada pelas más apresentações de Patty nas finais, a armadora Babi literalmente partiu para o ataque e foi a jogadora que mais arremessou no jogo final. A redentora bola de três tende a abrandar o rigor da análise, mas é evidente que no geral seu aproveitamento foi ruim.
Vinda do banco, a ala Jeane colecionou alguns bons momentos numa jornada também irregular nessas finais. Mas assim como a titular Patty, é uma jogadora pouco apta para um jogo de maior contato.
Nas pivôs, a dupla Aline Moura e Mariana Dias deu provas evidentes de talento e poderiam ter sido mais envolvidas na disputa. Já as mais experientes Mônica e Fabi perderam a oportunidade de marcarem suas carreiras com uma temporada mais consistente.
De todo modo, a conquista de Campinas é merecida e incontestável. O titulo repete a história vitoriosa de Americana, mas também revisita as glórias da própria cidade de Campinas na modalidade. Nos anos 90, a cidade foi sede do mítico time da Ponte Preta, que reuniu Paula e Hortência em 1993 e conquistou um bi-campeonato Mundial. Mais tarde Paula voltou à cidade com outro belo time com patrocínio da Microcamp, ao lado da irmã Branca e de estrangeiras como a americana Wendy Palmer, a iugoslava Razija Mujanovic e a croata Vedrana Grgin. Nos anos 2000, a excelente treinadora Maria Helena Cardoso tentou reviver o time da Ponte num gesto lindo, mas a equipe durou apenas um Paulista.
Com as tintas de Karla e o título de ontem, a expectativa é que o projeto se fortaleça, reforce seus vínculos com a cidade e aumente sua torcida (quem sabe um ginásio maior?).
E quem sabe honrando o melhor da tradição de Americana e de Campinas, a equipe possa ter fortes categorias de base e concorridas peneiras, como aquela que pescou a brasiliense Karla na mesma Campinas de outras tintas? Essa história também merecia ser repetida!
Parabéns, Vera Cruz Campinas!
(O texto ficou muito longo, mas nos próximos posts volto ao vice-campeão Sampaio e a outros aspectos da recém-encerrada temporada da LBF.)
Bert