Opinião
DOCUMENTÁRIO RESGATA HISTÓRIA DO BASQUETE FEMININO NO BRASIL
Na primeira vez que eu vi basquete na vida, ele era praticado por mulheres.
O nome delas era: Paula, Hortência, Janeth, Ruth, Marta, Nádia, Vânia Hernandes, Adriana Santos, Ana Mota, Joyce, Roseli e Simone Pontello.
Elas jogavam pela seleção brasileira a final dos Jogos Pan-Americanos de Havana (1991).
Suas técnicas também eram mulheres: Maria Helena Cardoso e Maria Helena Campos, a Heleninha.
Alguns meses depois eu soube que elas jogavam em clubes e assisti ao primeiro duelo entre Paula e Hortência na minha vida.
Um ano depois, o basquete chegava a sua primeira Olimpíada (Barcelona, 1992) e Hortência já discutia em público sua aposentadoria.
Fiquei perturbado com essa possibilidade e de lá para cá decidi que eu não perderia mais nada dessa história. E eu realmente não perdi.
Mas ao longo desses anos eu sempre me perguntei sobre a história antes da “minha história”.
Por onde andaram Paula, Hortência e companhia antes que elas se materializassem para mim naquele domingo de agosto de 1991? Que mulheres permitiram que elas existissem? Que história carregava a conquista da medalha de bronze no Campeonato Mundial de 1971? Quem era Norminha, figura mais falada da geração anterior e doce presença na transmissão da conquista do ouro no Mundial de 1994?
Em um país de registros escassos sobre o esporte feminino essas perguntas ficaram rodando em minha mente.
Em 2010 descobri o livro “Mulheres à Cesta – O basquete feminino no Brasil (1892 – 1971)”, de Claudia Guedes, que me trouxe algumas respostas e muita felicidade.
Dez anos depois, em 2020, a mão de outras mulheres me comoveu novamente em um domingo.
Foi ontem, 06 de setembro de 2020, quando foi lançado o documentário “Mulheres à Cesta”, com direção e roteiro de Sivia Spolidoro e Helen Suque e baseado no livro de Claudia.
É um trabalho belíssimo que amplia a poesia do livro ao trazer esses personagens vivos recontando a sua história.
Os depoimentos firmes e apaixonados de Norminha, Delcy e seu diário, Maria Helena e Heleninha enchem a tela, ensinam tanto sobre as lutas da mulher no esporte (e na vida) e inspiram amorosamente suas sucessoras, representadas no filme por Paula e Hortência. Há ainda a presença da (hoje) cantora Simone e de outros entrevistados.
O documentário amarra de forma natural e comovente essas duas pontas: o bronze de 1971 e o ouro de 1991 na figura das “donas” do basquete feminino nacional: as Marias Helenas Campos e Cardoso e nos presenteia com uma obra definitiva, imperdível e necessária.
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Documentário: Mulheres à Cesta, disponível para compra no site mulheresacesta.com.br
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por Bert (Painel LBF)
07 de setembro de 2020