“Ela é uma filha maravilhosa, atenciosa e dedicada. Minha admiração somente cresceu e aprendi a amá-la ainda mais”, confidenciou, emocionada, Célia Regina Ricci, 49 anos, que há 22 trabalha na limpeza geral do Complexo Esportivo Pedro Dell`Antonia, ao revelar o outro lado da esportista Lais Elena Aranha Silva, 72 anos, um dos nomes mais respeitados do basquetebol nacional. Dias atrás, para surpresa de muitos, a então técnica, que dirigiu por 32 anos a equipe feminina adulta de Santo André, anunciou sua saída. Nesta sexta-feira (24 de abril) à noite, porém, Célia Regina estará entre os amigos na homenagem que a Secretaria de Esporte e Lazer prestará a ex-comandante.
Com história de luta, superações e conquistas, além de 11 títulos no currículo profissional, Lais, como é mais conhecida, resolveu colocar ponto final na carreira de técnica, exatamente no dia em que o Basketball Santo André/APABA perdeu para o São José/Colinas Shopping, e, consequentemente, não conseguiu uma das vagas para as semifinais da Liga de Basquete Feminino (LBF) – 2014/15. Pragmática, a ex-treinadora surpreendeu, inclusive, a ex-jogadora de basquete, amiga e até então auxiliar Arilza Coraça, que será sua substituta na próxima temporada.
“Sabe, a Arilza ainda não administrou bem a ideia”, admitiu Lais, durante entrevista concedida, em parte, na sala de basquete localizada próxima ao ginásio principal do equipamento público municipal. No caminho inverso ao da amiga, agora, a ex-treinadora pretende atuar na supervisão técnica e acompanhar o trabalho das categorias de base. “Acredito que poderei contribuir um pouco nos fundamentos do basquetebol feminino”, afirmou, com a modéstia peculiar das pessoas diferenciadas.
Dona de memória invejável para narrar os detalhes das disputas acirradas e títulos nacionais e internacionais no comando da equipe andreense por quase quatro décadas, Lais orgulha-se dos inúmeros troféus distribuídos em uma estante e dos 18 quadros pendurados, entre uma parede e outra, no estreito corredor à porta de entrada da sala. “Foi um jogo emocionante. O Celso Daniel (ex-prefeito de Santo André por dois mandatos e morto em janeiro de 2002) saltou da arquibancada e veio comemorar com a gente na quadra”, contou Lais, referindo-se à conquista do Sul-americano Interclubes, em 1999. No clique, o ex-chefe do Executivo, que foi jogador de basquete pela Pirelli, posa ao lado das atletas campeãs e das integrantes da comissão técnica.
Palavras
As novidades dispostas na sala não param, que, sem dúvida, representam parte da história profissional vitoriosa de Lais, principalmente de exemplo de vida. Em uma divisória de parede, algumas palavras penduradas refletem o trabalho em equipe: foco, paixão, força, fé, objetivo e realização de sonhos. “A gente usa isso para falar nas preleções e conversas com o grupo”, disse a ex-técnica, que é carinhosamente tratada pelas atletas como mãezona.
Dona de fé inesgotável, Lais construiu seu caminho por uma das frases escritas em folha sulfite e jogada sob um móvel: “Para Deus, tudo é possível”. E garante seguir em frente. “Termino um ciclo com a noção exata de dever cumprido. Claro que vou sentir saudade”, afirmou, agora sentada no banco da quadra do ginásio principal, onde diariamente comandou treinos e jogos dos vários times montados ao longo do tempo.
Também revelou jogadoras à Seleção Brasileira, casos de Janeth Arcain e Marta de Souza Sobral, atualmente secretária de Esporte e Lazer de Santo André, na década de 1990. Mais recentemente, a ala Jaqueline Silvestre e a pivô Vanessa Gonçalves, a Sassá.
Trabalho
“Vou morrer trabalhando”, afirmou Lais, cercada das tradicionais bolas de basquete e que fazem parte da vida da ex-técnica, nascida em Garça, cidade do interior do Estado. Lá, brincou, correu e ralou os joelhos com as quedas da bicicleta. O saudoso pai, João Aranha, falecido há três anos com 93 anos, também jogou basquete. “Ele foi um jogador bom e me incentivava”, apontou.
A também ex-jogadora, de início de carreira, teve uma quedinha pela natação até chegar à quadra. “Aí, não teve jeito. Tomava café, almoçava e jantava basquete. Até hoje isso ocorre”, disse, aos risos, ressaltando que a mãe, atualmente moradora em Santo André, tem a noção exata da sua paixão pela modalidade. “Quantas vezes deu palpites na parte tática e pegou no meu pé por conta dos jogos”, contou, orgulhosa, a filha de dona Eunice Almeida Aranha, 93 anos.
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Chancela: Confederação Brasileira de Basketball (CBB)
Texto: Elaine Granconato/PSA
Fotos: Anderson Pedro/PSA e Arquivo