*Publicado originalmente na Coluna Bala na Cesta, do UOL
Faleceu ontem, vítima de uma pneumonia decorrente de um câncer de mama, com 76 anos recém-completados (no dia 11 de março) Lais Elena, lendário personagem do basquete brasileiro. E lendário, aqui, não é força de expressão, não. Lais fez parte dos primórdios do basquete feminino nacional como atleta, sendo campeã sul-Americana (1965, 1967, 1968, 1970 e 1974) e bicampeã Pan-Americana (1967 e 1971), além de bronze no Mundial de 1971, realizado no Brasil naquela que foi a primeira geração com gigantescos resultados internacionais entre as meninas.
Como treinadora, logo depois de se aposentar, Lais, nascida na cidade de Garça, interior de São Paulo, dirigiu por 40 anos seguidos o time feminino da cidade com a qual se identificou, com a qual seu nome se confunde, com a qual criou, manteve e cresceu um projeto de basquete lindo, incrível, maravilhoso. O ginásio era sua casa. Suas atletas, extensão de sua família – uma família gigantesca e que a amava.
Santo André entrou no mapa do basquete nacional devido a Lais Elena. Santo André ganhou dois títulos nacionais nos últimos 20 anos (1999 e 2011) graças a Lais Elena. Santo André passou a ter um dos melhores trabalhos de base do país graças a Lais Elena, destemida figura que trabalhava incessantemente das categorias menores ao adulto para ver, monitorar, ajustar, ajudar e acompanhar tudo que se referia a basquete em sua querida cidade. Incansável é pouco pra descrevê-la.
Tive o prazer de conhecê-la e conviver com ela nos últimos anos. Figura doce, sincera, correta, sem medo da verdade, me procurava sempre que divulgava alguma notícia quente a respeito da crise da gestão anterior a esta na CBB. Tínhamos papos longos no WhatsApp, em ligações, mensagens gigantes trocadas um para o outro. Quando a conheci pessoalmente, cinco anos atrás, ela me deu um abraço, um beijo forte, chamou seu time e disse: “Este rapaz aqui é um exemplo. Briga pelo que é correto e devemos nos espelhar em pessoas assim. E vejam o tamanho dele (tenho 1,68m), mesmo em um esporte de gigantes ele não teme a nada”.
Fiquei vermelho, baixei a cabeça, apenas dei um abraço em Lais e saí de fininho, sem alarde, no meu silêncio de agradecimento. Mesma reação que tive ontem ao saber de sua morte. Fiquei em silêncio, agradecendo mentalmente por tudo o que ela fez em uma vida destinada ao basquete e por Santo André.
Certamente não haverá uma figura como ela tão cedo por aqui. Uma lenda nos deixa. Seu legado, porém, é eterno. Muito obrigado por tanto, Lais!