Terminou no final de semana passado o Mundial de Basquete Feminino. Em Tenerife, nada de muito novo no resultado final quando vemos EUA, Austrália e Espanha com as três primeiras posições. Mas é simplista falar assim. Tem muita lição deste campeonato. Muita mesmo.
A primeira, e a mais difícil para nós brasileiros, é que o nível internacional é absurdamente alto. Muito, muito alto mesmo. Querem ver um exemplo? A Argentina, que bateu um quase completo selecionado nacional em Tunja, no Sul-Americano mais recente, não conseguiu ANDAR em quadra. Levou duas sapecadas (63-37 da Turquia e 84-43 da Austrália) e conseguiu a proeza de perder do até bem organizado time da Nigéria (75-70). Dominar o continente está longe de ser um sinal de que as coisas irão bem quando cruzar o oceano pra pegar europeias e também Austrália.
Além disso, quem ficou com a quarta posição? A Bélgica. A surpreendente Bélgica, que vem fazendo um trabalho consistente na base (campeã Sub-18 em 2017 na Europa) e crescendo aos poucos no adulto (3o lugar no EuroBasket no mesmo ano). As duas maiores estrelas do time na competição, porém, foram as experientes Emma Meesseman (18,5 pontos e 10,7 rebotes para a pivô de 25 anos) e Kim Mestdagh (16,2 pontos para a ala de 28 anos). Dá pra conceber que um país de 11,3 milhões de habitantes tenha uma formação melhor que a brasileira, cuja tradição no basquete feminino é gigantescamente maior que a belga? Não dá. A Bélgica é apenas um time organizado que faz o que o basquete atual manda – marca razoavelmente bem, roda a bola com consistência e acelera absurdamente pra conseguir os pontos com maior potencial de conversão. Nada de outro mundo.
No topo, vale ficar de olho em como a Espanha irá caminhar após esta competição. A geração possui alguns nomes veteranos (Anna Cruz, Laia Palau, Alba Torrens, Silvia Dominguez e Laura Nicholls), mas quem arrebentou mesmo foi a pivô Astou Ndour, que apareceu no mesmo Mundial de 2011 Sub-19 que Damiris, a brasileira, foi a MVP. Damiris, infelizmente, não jogou o Mundial porque o Brasil não se classificou. Na Austrália, o raciocínio é diferente, porque a geração é quase toda bem nova, mas a diferença é que Liz Cambage, de 27 anos, vive seu auge físico e técnico, conseguindo ser incrivelmente dominante nos dois lados da quadra. O Brasil não tem alguém tão longilínea quanto Astou e nem dominante quanto Cambage.
O remédio é um só: trabalhar, trabalhar e trabalhar. O nível internacional ensina que o buraco é bem mais em cima e que só seguindo de forma consistente e organizada os resultados virão. Ainda estamos bem longe de ver isso acontecer com o basquete feminino brasileiro, infelizmente. Que em breve isso tudo mude.