O “Na Cesta do Bala” retorna hoje fazendo uma série de entrevistas com personagens da Liga de Basquete Feminino na edição de 2018. O primeiro é Roberto Dornelas, técnico do gigante Uninassau e campeão de 2013 com o Sport-PE. Com a palavra, Dornelas, treinador do time pernambucano que chegou à semifinal na temporada que terminou recentemente.
1) Qual a sua avaliação da edição de 2018 da LBF?
ROBERTO DORNELAS: Minha avaliação quanto a edição de 2018 eu acho que é unânime – foi a edição mais disputada de todas. Acho que as equipes estavam muito equilibradas, com todas tirando pontos de todas. Mais uma vez não houve um campeão invicto, uma grandíssima superioridade, a decisão foi pra quinta partida, tal qual em 2017, então isso demonstra que os jogos foram bastante parelhos. A diminuição do número de estrangeiras fez com que isso acontecesse, o surgimento de novas meninas, também.
2) Como técnico experiente e responsável por um dos projetos mais respeitados do país, quais pontos de melhoria você coloca pras próximas edições?
DORNELAS: Como a gente sabe, o basquete feminino não tem tanto apoio como há no masculino. Então essa parte de investimento eu acredito que a Liga deva olhar um pouco mais para este lado dos clubes. Os times, principalmente os daqui do Nordeste, sobretudo. Nós temos um custo altíssimo com viagens, hospedagem, alimentação. O orçamento praticamente dobra para que disputemos os campeonatos quando falamos destes itens. É algo que tentaria ver para melhorar ainda mais a competição. Por isso eu acho que é imprescindível que a Liga veja as equipes que estão longe do grande centro, que é São Paulo, com um pouco mais de carinho. Nós fazemos muito pelo basquete feminino, porque descentralizamos a modalidade, e torço para que a Liga veja isso com todo carinho, já que há uma diferença orçamentária muito grande para viagens.
3) Como é fazer basquete feminino no nordeste do país, região tradicional mas sem muito apoio para o feminino até pouco tempo atrás? Como é seu dia a dia por aí e o que te move a continuar este belo projeto no Uninassau?
DORNELAS: Como você mesmo disse na pergunta, Bala, é muito difícil não só o basquete, mas qualquer esporte que não o futebol aqui no basquete. Tudo fica muito mais difícil. Ainda não temos um entendimento dos empresários quanto a este retorno, a parcerias, a essas coisas. Isso dificulta na montagem de equipes competitivas. Isso que nos seis anos de disputa aqui no Recife chegamos entre os quatro primeiros, o que considero um baita feito tendo em vista essas dificuldades. Temos medalhas em todas as competições, e essa dificuldade de manter o time é imensa. Estamos sempre correndo atrás, mas ter o empresariado do nosso lado é bem complexo.
4) Você consegue sentir algo diferente desde que o Ricardo Molina assumiu a presidência? O que projetar daqui pra frente?
DORNELAS: Eu fui uma das pessoas que mais briguei para que o Ricardo assumisse a presidência. Eu particularmente não gostava da ideia de sermos um braço de Confederação ou de NBB. Precisamos tomar as nossas decisões. Somos diferentes e temos tudo diferente do masculino. Com o Molina ganhamos essa autonomia e crescemos bastante. Fizemos indiscutivelmente a melhor liga de todos os anos, e todos viram isso. Essa liberdade de você fazer as coisas com pessoas que entendem do basquete feminino fez com que houvesse esse crescimento. Tantos resultados ruins de seleções não impactaram na melhoria da Liga. Isso é importante de se ressaltar. A gente acredita que esse caminho que foi aberto ainda vai dar muitos frutos daqui pra frente. Queremos continuar o projeto adulto do time, mas também o Cestinha do Futuro, que é o da base, nossa grande paixão. Agora é esperar que o empresariado nos apoie para que mantenhamos a equipe adulta. Estrutura, no Centro de Treinamento da RD Esportes, nós temos. Agora falta o aporte financeiro. Precisamos de mais equipes no feminino, mas também que as que já estão tenham condições de se manter por mais e mais tempo.